Hidrarquia, ou reagindo a tirania global.


   
O termo Hidrarquia foi cunhado por um homem rico, chamado Richard Braithwaite, apoiador  do Parlamento durante a Revolução Inglesa ( uma das primeiras revoluções burguesas, resultado da crise do absolutismo e que inaugurou as bases do moderno Estado Inglês), para descrever o Estado Marítimo que, hoje se sabe, foi o instrumento utilizado para intercambiar os fluxos de riquezas, escravos e pessoas através do Atlântico Norte, promovendo a acumulação inicial de capital que possibilitaria a gênese do capitalismo global e imperialismo.
O blog foi assim batizado porque Hidrarquia é um termo ambivalente: tanto significando esse Estado marítimo, com organização que se propaga do topo da sociedade, das camadas que detêm o poder econômico, político e jurídico quanto advindo da organização horizontal, pluriétnica e plurinacional dos marinheiros, piratas, escravos e “vagabundos” que sustentavam essa ordem social nascente. Hidrarquia também remete a Hidra de Lerna, um dos monstros que Hércules teve de combater em seus 12 trabalhos. Essa figura mitológica era muito suscitada pelos poderosos da época, que viam nos escravos, marinheiros e despossuídos em geral uma força que poderia causar agitações e impedir a empresa capitalista de se instalar e moer carne humana com a voracidade que lhe é característica.

Hidra de Lerna
Este blog é anticapitalista e por isso adotou este nome retirado da obra de Marcus Rediker e Peter Linebaugh “ A hidra de muitas cabeças”, que trata da rebeldia, modos de organização horizontais e solidariedade internacional praticados por escravos, plebeus e marinheiros, que opunham resistência a formação do capitalismo global. Retomar essas histórias é fundamental para pensar alternativas na sociedade distópica para a qual estamos caminhando (ou vivendo, cabe ao leitor decidir). Em tempos de falsificação histórica e imbecilização das massas precisamos voltar a trazer à ordem do dia ideias básicas sobre igualdade e solidariedade, mostrando que homens e mulheres no passado pensaram um mundo diferente, mas foram combatidos pelas estruturas montadas pelos capitalistas a fim de defender sua acumulação irrestrita de capitais e poder sobre a humanidade.
Navio Pirata- Organização horizontal e intercâmbio cultural entre a "ralé" internacional.
Chegamos a um ponto em que há a possibilidade de controle total dos seres humanos: algoritmos, desumanização e isolamento têm quebrado as possibilidades de se pôr abaixo esse sistema político e econômico e levado as pessoas a quadros de depressão, desespero e cinismo diante da vida.
Acredito que enquanto houver vida há espaço para resgatar ideias simples, de fácil compreensão que desembaralhem essa bagunça em que nos meteram em nome do lucro e do poder. Por isso, trago as reflexões que me acompanham desde a infância, e que me ensinaram a pensar o mundo: todo ser humano tem direito à vida e as condições básicas para a reprodução da vida- moradia, alimento, relações sociais, cultura, trabalho. Nenhum ser humano deveria subjugar outro ser humano. Todos deveriam cooperar para o bem comum. Todos precisam de uma ocupação, uma ideia de finalidade da ação, de um trabalho com sentido. Todos precisam de tempo livre para pensar na vida, para criar, para agir como humanos. A humanidade precisa da ideia de melhora das condições de vida de todos. A Terra não deveria ser explorada, destruída para o deleite de uns poucos. Somos melhores do que isso, a despeito das sucessivas tentativas de nos desumanizarem.
É nesse sentido que inicio este blog. Trarei aqui minhas reflexões sobre as mudanças sociais que se avizinham, sobre o terror que aparentemente o capitalismo está preparando para todos nós, classes subordinadas. Tudo isso tentando não perder a esperança em dias melhores, que podem e devem ser construídos coletivamente.  


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